domingo, 27 de maio de 2018

Crianças Surdas e o “Conforto linguístico” da Família


Na trajetória de constituição do humano, a criança e o adolescente sentem necessidade de diálogo e da presença de alguém que os compreenda e elucidem as transformações pelas quais eles passam na sua vida. Geralmente, os filhos buscam, na figura dos pais, o referencial de identidade. Entretanto, as próprias condições da sociedade causam influência nas relações familiares, dificultando que a família cumpra seus deveres essenciais junto aos adolescentes e fazendo com que, sigam seu caminho, obedecendo a suas inclinações pessoais e menos subordinados à influência familiar. Na situação da surdez, em famílias ouvintes com filhos, os vínculos afetivos podem ser quebrados já na descoberta da diferença, quando não, pelo fato de a criança ou adolescente surdo não encontrar em casa o referencial procurado.
Carlos Skliar (1995) explica que o surdo é um ser sociolinguístico diferente, pertencente a uma comunidade linguística minoritária, caracterizada por compartilhar o uso de uma Língua de Sinais e de valores culturais, hábitos e modos de socialização. A Língua de Sinais é um elemento aglutinante e identificatório dos surdos, constituindo seu modo de apropriação com o mundo, o meio de construção de sua identidade, sendo por meio dela que o surdo põe em funcionamento a faculdade da linguagem, inerente a sua condição humana. Goldfeld (1997), ao analisar a linguagem e a surdez numa perspectiva sociointeracionista, reconhece as dificuldades de comunicação entre pais ouvintes e filhos surdos, em função da diferença linguística que há entre eles. Neste sentido, o processo de socialização se torna um obstáculo para os surdos, visto que a família, pela atividade conjunta entre seus membros, seria o primeiro ambiente de interação e cooperação que leva o jovem à autonomia.

 

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